A endometriose não representa risco de morte; porém, nem por isso deixa de ser preocupante. Estima-se que, hoje, ao menos 15% das brasileiras em idade fértil sofram desse mal – ainda que metade da população feminina desconheça a patologia.
Os dados acima foram levantados pela SBE (Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva) e pela Universidade de Oxford (Inglaterra), que entrevistou 1.418 mulheres de dez países, incluindo o Brasil.
A doença em questão se caracteriza por uma cólica intensa no período menstrual, dor pélvica crônica e incômodo nas relações sexuais, explica o cirurgião gástrico Pérsio Campos, docente da Faculdade de Medicina da PUC-SP e diretor clínico do Instituto Campos Maia, de Sorocaba (SP). Pelo desconforto que causa, a endometriose tem impacto físico e emocional. “As dores causam irritabilidade, o que é normal e previsível. Também podem comprometer a capacidade de trabalho e impedir a gravidez”, enumera Pérsio.
Causas e consequências
De acordo com o médico, a patologia surge quando células do endométrio (tecido que reveste o útero) aderem a outros locais do abdômen, como a área entre a vagina e o reto; os ligamentos que sustentam o útero; os ovários; as trompas; a superfície externa do útero ou o peritônio, por exemplo.
Como essas células continuam a responder aos estímulos hormonais, o tecido aumenta de tamanho e sangra. Sem ter por onde se esvair, este líquido se acumula e causa inflamações. Daí se origina a dor incapacitante, que impacta a vida profissional, familiar e social.
A principal causa da endometriose é a chamada menstruação retrógrada. “Estudos apontam que 80% das mulheres têm refluxo de parte do sangue menstrual, o que leva as células do endométrio para lugares inadequados do seu corpo”, comenta Pérsio. Nesta patologia, o sistema imunológico falha e não destrói as células deslocadas. Paralelamente, a exposição excessiva ao estrogênio provoca o surgimento de pequenas massas. “Assim, fatores de risco incluem a menstruação precoce, a gestação tardia e ter poucos filhos.”
Não são raras as vezes em que as células do endométrio aderem a cicatrizes de cirurgias anteriores, sobre o intestino ou a bexiga, causando incômodo ao urinar e evacuar. “Isso também pode desencadear infecções urinárias e diarreias, principalmente durante a menstruação”, acrescenta o professor da PUC-SP.
Quando procurar um médico
A intensidade da dor não representa a dimensão do problema. “Todas as mulheres devem procurar ajuda médica assim que sentirem qualquer um dos sinais”, alerta Pérsio.
Metade das portadoras de endometriose não conseguem engravidar. A doença gera, ainda, alterações hormonais, bioquímicas e imunológicas, que atrapalham o funcionamento do aparelho reprodutivo.
O diagnóstico se dá por meio de exame ginecológico com toque vaginal ou por exames de imagem (como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve). Infelizmente, não há cura para a endometriose. Contudo, o tratamento bem orientado reduz significativamente os desconfortos.
Mitos e verdades
VERDADE – A endometriose é uma doença que não tem cura e pode voltar.
VERDADE – Predisposição genética, estilo de vida, queda do sistema imunológico e alterações no fluxo menstrual são fatores que predispõem ao aparecimento da doença.
VERDADE – A escolha da terapia mais adequada dependerá da severidade dos sintomas e do grau da doença instalada.
MITO – Na maioria das vezes, a infertilidade pode ser revertida com tratamentos específicos.
VERDADE – A cirurgia robótica pode substituir a laparoscópica, sobretudo quando a endometriose está em fase mais avançada e já se instalou profundamente na região do intestino.
VERDADE – Em casos de grau leve de endometriose, pode-se fazer uso de diferentes medicamentos hormonais. Porém, alguns não são indicados para as mulheres que desejam engravidar, pois têm ação anticoncepcional.
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