
Quando está em atendimento, a psicóloga Tânia Maia não enxerga do outro lado da mesa um adolescente com algum problema, ela na verdade vê alguém com infinitas possibilidades a serem descobertas. Foi com essa visão de trabalho, que apenas dois meses após ingressar na equipe do Centro de Especialidades I, localizado no centro da cidade, a profissional iniciou um projeto com seus pacientes, além do consultório. “Ouvindo eles, eu percebia que ali estavam muitos sonhos e muitas habilidades”.
Apaixonada pelas artes, Tânia decidiu então utilizá-las como ferramentas do seu ofício. Uma vez por mês, reúne seus pacientes para aulas de violão e prática de desenho e redação. “Eles passam por sessão uma vez por semana, onde eu também uso o desenho dentro da terapia. Além disso, toda terceira quinta-feira do mês eles têm aulas de música”, explica.
E para quem acha que esses recursos já estavam disponíveis, não sabe a persistência necessária para que o projeto Almacore vingasse. Com o apoio de sua coordenadora, ela conseguiu um professor voluntário para trabalhar com os adolescentes no projeto. Mas quando parecia que as coisas fluiriam, começaram as dificuldades com o material das aulas.
Tânia então resolveu procurar a primeira-dama e presidente do Núcleo de Inovação Social, Ana Carolina Barreto Serra, pedindo ajuda com doação de instrumentos e itens de desenho e pintura. À frente do Núcleo de forma voluntária, Ana Carolina Barreto Serra, ciente da importância de um projeto social como este, procurou parceiros, junto com sua equipe, que doaram 15 violões novos e telas, tinta guache, papel canson e lápis. “A cultura é importante para o desenvolvimento das pessoas e é por isso, quando vemos um projeto no qual acreditamos, não podemos medir esforços para ajudar”.
A rede de solidariedade não parou por aí. Pouco tempo após a saída do professor anterior, uma paciente de Tânia fez com que os músicos Regis e Elisangela Souza conhecessem o Almacore e decidissem lecionar voluntariamente uma vez por mês ao grupo de adolescentes. “A música sensibiliza as pessoas. É por meio dela também que transpomos nossas emoções, sejam elas, tristes, dolorosas ou alegres”.
Isabel Silva Spelzer, de 16 anos, é a pessoa que melhor pode comprovar isso. A estudante era muito introvertida e sempre gostou de desenhar. “Quero ser tatuadora no futuro”. Com receio, ela não mostrava aquilo que produzia a praticamente ninguém. Desde maio do ano passado, quando também foi iniciado o projeto, Isabel começou o processo terapêutico e passou a se dedicar mais às artes. “Isso me deu um ânimo maior para investir nisso e eu me sinto mais confiante em expor meus desenhos”.
A mãe da adolescente, Marli Almeida da Silva, de 45 anos, é mais uma testemunha dos benefícios que a arte traz. “Minha filha se tornou mais comunicativa e quando vem me mostrar o que ela fez, é mais uma porta para um diálogo. Isso acaba nos aproximando mais”, se alegra ao falar.
Quando questionada do motivo de todo esforço, Tânia destaca o bem estar dos seus pacientes. “Eu tenho nesse grupo casos de bipolaridade, dificuldade de aprendizado e até automutilação. Uma das adolescentes, após iniciar o tratamento e participar das aulas, está há 8 meses sem se mutilar. Eu amo o que eu faço”, conclui.
Texto: Bianca Fontes