Uma xarada para você: que relação existe entre moradores de rua, uma universidade e cooperativismo? Pode parecer que nenhum dos três tem a ver com o outro, mas em São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo, essa união existe e tem tudo para dar certo. Por meio de um curso de capacitação, a Universidade Metodista diplomou em dezembro o primeiro grupo de 13 pessoas em situação de rua para que atuem juntos, sob a forma de uma cooperativa, na reforma de casas.
O projeto “Gente é para brilhar”, no entanto, não é apenas uma iniciativa para ensinar os rudimentos de um ofício. Afinal de contas, com uma universidade – e todos os seus recursos educacionais na retaguarda – não se poderia esperar algo superficial. Os alunos foram formados com o que de mais moderno há em termos de organização e manutenção de um negócio. Eles não aprenderam a reformar residências, bater pregos ou pintar uma parede – mas a gerir, administrar um negócio.
A formação dos alunos, iniciada em agosto, foi feita por meio de oficinas com uma carga de horária de 40 horas. Os alunos tiveram uma avalanche de preparo, com a participação de alunos e professores do curso de Processos Gerenciais, com temas como comportamento empreendedor, fluxo de caixa, criatividade, economia solidária, cooperativismo e relações humanas. O curso não foi apenas técnico. A psicóloga Sandra Soares Godinho acompanhou todo o processo com o objetivo de desenvolver um trabalho socialmente estruturado.
Essa história inédita de união entre universidade e excluídos começou quando o professor Marco Aurélio Bernardes, da Escola de Gestão e Direito da universidade, conheceu um jovem que não conseguia emprego e vivia nas ruas. Teve a ideia, então, de criar uma forma de a Metodista auxiliar pessoas nessa situação. Para isso, procurou a ONG Comunidade Padre Pio, no bairro de Riacho Grande, que já acolhia e trabalhava com pessoas em situação de rua.
“Esse projeto surgiu para criar uma cooperativa só, mas esses conhecimentos servem para todas as áreas”, explica o professor Bernardes. “Alguns querem abrir uma confeitaria e outros querem trabalhar com alvenaria, mas todos têm que saber gestão financeira e de pessoas. O que nós queremos aqui é formar multiplicadores”, acrescenta. A coordenadora do curso de Processos Gerenciais, Rosana de Almeida, acrescenta outro objetivo da iniciativa: “Devolver a autoestima e a autoconfiança para essas pessoas pelo trabalho que será desenvolvido, reinserindo-os na sociedade e no mercado de trabalho e também na abertura de campo de trabalho através da cooperativa que se formará”.
“O contato com as pessoas em situação de vulnerabilidade social, econômica e psicológica, sob a orientação de docentes que trabalharão neste projeto, será uma oportunidade ímpar para o crescimento e maturidade pessoal”, complementa o professor Luiz Silvério Silva, coordenador da cátedra Gestão de Cidades. Que a iniciativa se espalhe pelo país.