Pesquisa indica que em 2020 a sobrecarga causada pela pandemia contribuiu para quadros mais frequentes de fadiga, exaustão e burnout entre os brasileiros
Um estudo encomendado pela Microsoft, e realizado pela empresa de análises Harris, em 2020, constatou que, entre 6 mil pessoas entrevistadas em 8 países, os brasileiros foram os que mais relataram fadiga e exaustão durante a pandemia: 44% dos respondentes declararam que são atingidos pelo problema.
O número é alarmante e se acentua quando contraposto com a população de outros países: Singapura, que ocupa o segundo lugar do ranking, apresentou 37% dos respondentes no cenário. Na sequência, vem os Estados Unidos, com 31%; Índia, com 29% e Austrália, com 28%.
Para o psiquiatra Cyro Masci, essa fadiga pode ser indicativa de Burnout, termo que pode ser traduzido literalmente como “queima” ou “combustão total”. O quadro inclui, além da exaustão física e emocional, sintomas de irritabilidade e cinismo, assim como redução significativa no senso de realização pessoal ou de eficácia no trabalho.
Segundo o médico, “o Burnout muitas vezes se instala sem a percepção clara de quem está sendo acometido. Um dos motivos para isso é que esse quadro é bastante comum em pessoas perfeccionistas e que empenham muita energia no trabalho. Quando o Burnout tem início, os primeiros sintomas podem ser apenas queda na sua produtividade, que tende a ser acompanhado de mais empenho no trabalho”, explica.
Entretanto, esse aumento de energia com foco na atividade laboral pode trazer um “efeito rebote”. “Com a presença do cansaço, o resultado será ainda mais queda na produtividade, que, por sua vez, gera mais frustração. Desse modo um ciclo vicioso é fechado e, sem que exista consciência dele, dificilmente a pessoa consegue escapar”, enfatiza o psiquiatra.
Recorrência do Burnout
Masci destaca que as mulheres parecem ser mais suscetíveis ao Burnout. O psiquiatra realiza o apontamento com base em um trabalho da Universidade de Montreal, no Canadá, publicado no Annals of Work Exposures and Health em 2018, que levantou o ponto.
E a razão para essa diferença na vulnerabilidade, segundo Cyro Masci, é que as mulheres apresentam diferença na ordem dos sintomas. “Enquanto os homens tendem a apresentar sintomas como irritabilidade ou cinismo como primeira manifestação do Burnout, as mulheres, por sua vez, apresentam sintomas de fadiga extrema logo no início do quadro”, explica Cyro Masci. Mas, mesmo que a ordem de aparecimento seja diferente entre os gêneros, o cansaço físico e emocional sempre faz parte do burnout.
De acordo com o especialista, o cansaço físico é sentido e pode ser reconhecido como falta de energia para realizar as atividades profissionais e do dia a dia, com a característica de que não melhora após medidas de repouso habitual, como uma boa noite de sono ou um final de semana sem preocupações. Já o cansaço mental costuma ser referido como um estado de exaustão emocional. “É como se a pessoa tivesse as energias drenadas, sugadas, restando pouca força, esperança ou motivação para domar o próprio destino”, relata o médico.
Sinais de alerta
Segundo Masci, outro sintoma importante a ser observado é a irritabilidade por pequenos motivos, além de cinismo e sarcasmo. “Esses sintomas traduzem uma reação automática do cérebro, que adota uma postura de reduzir situações que estão favorecendo a sobrecarga. Uma pessoa ponderada pode, por exemplo, passar a apresentar reações ‘de pavio curto’. Esse é um modo do cérebro afastar o excesso de acontecimentos e circunstâncias que estão temporariamente acima da capacidade de enfrentamento”, esclarece o psiquiatra.
Ocorre também mudança na motivação. “O que antes era um desafio até mesmo agradável, na presença do burnout se transforma em fonte de desprazer, de sofrimento físico e mental, que se manifesta como dores de cabeça e até mesmo desarranjo intestinal”, relata Cyro Masci.
Por fim, o médico acentua que o Burnout deve ser levado a sério e exige abordagem especializada. Inicialmente é necessária investigação clínica, para averiguar se a fadiga não tem origem em alguma doença, como anemia ou tiróide. Não havendo doença orgânica que justifique o cansaço, o ideal é iniciar o tratamento o mais breve possível.
“O objetivo é impedir que o quadro se torne crônico, acarretando prejuízos sociais, pessoais ou financeiros como consequência do transtorno. A abordagem que inclua tanto as alterações biológicas, em especial no cérebro, quanto os aspectos sociais e comportamentais é o ideal”, finaliza o psiquiatra.
Cyro Masci é médico psiquiatra em São Paulo e atua utilizando a abordagem integrativa, conciliando a medicina tradicional com várias formas de tratamento não convencionais.
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