Se aves coloridas e exuberantes são símbolo de florestas tropicais – vide a brasileiríssima arara –, o flamingo tem a cara de um pôr-do-sol na praia. Com suas patas esguias e seu rosa vivo, o animal está curtindo seus novos cinco minutos de uma fama frenética, que o colocou entre os termos mais buscados do Google depois de um longo inverno: ele já foi – como, aliás, quase tudo o que vira moda da noite para o dia – símbolo de cafonice, de gosto pouco refinado. Isso tem história: nos idos dos anos 1950, um designer criou um enfeite em formato de flamingo para a fábrica de plásticos Union Products. O produto acabou se popularizando como enfeite de jardim e ficou ombro a ombro com os famigerados anões (que, quem sabe, também podem voltar a ter seus dias de glória em breve) – e ligados ao populacho estético.
O cineasta norte-americano John Waters, irreverente e debochado, até usou o bicho como inspiração em seu clássico trash cult “Pink Flamingos”, considerado um verdadeiro exercício de mau gosto (proposital, é claro). No filme, os animais enfeitam a história da drag queen Divine, em sua jornada para se tornar “a pessoa mais sórdida do mundo” – e acredite: ela se esforça bastante.
Mesmo com uma má fama dessas, não dá para dizer que o flamingo já não estava na cultura pop. A diferença é que agora ele usou suas patas longas e esguias para sair do quase anonimato e ir para o quem-é-quem da moda. Pegou carona na onda cor-de-rosa do onipresente millenial pink e foi parar nos desfiles de Milão e no Instagram dos mais descolados.
E não é que encontraram uma elegância e delicadeza até então desconhecidas no animal? E até a representação de um ideal, dividindo com unicórnios e sereias o símbolo da comunidade LGBT. Ele veio com tudo na música: na revoada cor-de-rosa do clipe de “Music to watch boys to”, de Lana Del Rey, à beira da piscina em “New Rules”, de Dua Lipa, ou nas boias escalafobéticas das pool parties da Taylor Swift.
Ou seja: o flamingo agora entra, com todo o seu garbo, pela porta da frente. Pela porta, pela parede, pela mesa de centro, pelo aparador… Não há limite para o que pode ser ornamentado com ele. Afinal, esse jeitão de kitsch, de estilo anos 1960, que o flamingo sugere excessos de todos os tipos, seja em um papel de parede com sua imagem repetida e sobreposta à exaustão, seja em uma luminária de neon capaz de roubar o foco de todos os demais objetos.
Essa irreverência toda não se restringe aos objetos. Em tecidos estampados, também vai muito bem. Experimente uma almofada com os bichinhos ornamentando – o que pode facilitar a vida de quem tem medo de exagerar, visto que é possível combinar uma peça estampada a outras mais neutras.
Como se trata de um animal que vive em bandos numerosos, neste momento é mais do que normal enxergar flamingos por todos os lados. Aproveite essa febre cor-de-rosa sem medo de ser feliz – até o momento em que a revoada passar, e as aves voltarem a ser vistas só daqui a algumas décadas.