Estudo revela que lesões cerebrais podem afetar decisões altruístas. Cientista do Instituto D’Or, Jorge Moll, está entre os autores da pesquisa

Os testes foram feitos com ex-combatentes norte-americanos da Guerra do Vietnã. Neles, foram incluídos 94 homens com lesões cerebrais penetrantes e mais 28 veteranos sem lesão

0
570
SB post

No último dia 26 de março, foi publicado, na revista científica Brain, um estudo com pacientes que sofreram lesão cerebral na Guerra do Vietnã. Trata-se de uma pesquisa realizada com ex-combatentes norte-americanos na qual foram avaliadas decisões altruístas tomadas por eles. O neurologista Ricardo de Oliveira Souza, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino — instituição presidida pelo cientista e também neurologista Jorge Moll— é um dos autores da análise.

De acordo com Ricardo de Oliveira Souza e Jorge Moll, lesões cerebrais, como por exemplo, as ocasionadas por traumatismos de guerra, podem interferir em certos comportamentos e decisões. Essas decisões, por sua vez, podem ser afetadas de diferentes formas, dependendo da região do cérebro atingida. Por esse motivo, veteranos de guerra constituem excelente modelo para identificar regiões no cérebro envolvidas com decisões altruístas, segundo os neurologistas. O trabalho foi divulgado no texto “Neurologia do Altruísmo“, publicado no portal do Instituto D’Or (www.idor.org), também no dia 26 de março.

O artigo que foi publicado na revista Brain é parte de uma série de levantamentos que foram feitos com os ex-combatentes norte-americanos da Guerra do Vietnã desde a década de 1980. Na pesquisa, foram incluídos 94 homens com lesões cerebrais penetrantes e mais 28 veteranos sem lesão cerebral, que compuseram o grupo controle. Todos esses participantes, por sua vez, foram submetidos à tomografia computadorizada. O método não é invasivo e permite mapeamento detalhado das lesões cerebrais.

A dinâmica

Na pesquisa em questão, os veteranos de guerra passaram por um teste de decisões altruístas no qual o objetivo era captar traços de moralidade e senso de justiça de cada um. Ricardo de Oliveira Souza e Jorge Moll explicaram que nesse teste, cada participante recebia certa quantia e era apresentado a 30 organizações envolvidas em causas sociais, como direito ao aborto, uso de energia nuclear e controle de armas. Diante de cada organização, a pessoa deveria decidir se usava US$ 1 para ajudar a instituição (recompensa), se retirava US$ 1 da organização (punição) ou se guardava o dinheiro para si. Tanto para doar como para retirar dinheiro das instituições, os participantes perdiam uma quantia equivalente em seu próprio montante.

Os neurologistas do Instituto D’Or salientaram que, na avaliação, tanto o ato de “doar” quanto o de “punir” as organizações foram considerados decisões tipicamente altruístas — visto que, em ambas as escolhas, os participantes precisavam abrir mão de um ganho próprio para concretizá-las. “Um grande diferencial do teste é que ele consegue ir na essência da intenção moral, doando ou punindo com base no que cada um considera certo ou errado”, ponderou Oliveira Souza.

Os resultados

A equipe de cientistas responsável pelo estudo observou a existência de uma relação entre a resposta de cada participante no teste de decisão altruísta e o padrão de lesão cerebral. Os veteranos que mais realizavam ações de punição, por exemplo, possuíam lesões bilaterais no córtex prefrontal dorsomedial. Já os que menos puniam as organizações possuíam lesões cerebrais localizadas no córtex temporoinsular esquerdo e perisylviano direito.
“As decisões de doação, por sua vez, se associaram a lesões em outras áreas do cérebro. Os veteranos que mais doaram possuíam lesões bilaterais do córtex parietal dorsomedial. Em contraste, a diminuição de doações foi associada a lesões posteriores do hemisfério direito, em especial do sulco temporal superior e do giro temporal médio”, destacou o texto do portal do Instituto D’Or.

A importância dessas mesmas áreas cerebrais para determinar o senso de intencionalidade, moralidade e justiça em relação a uma pessoa ou grupo social já foi atestada em estudos anteriores. Os autores dessa pesquisa, no entanto, destacaram que os novos resultados reforçam a noção de que decisões altruístas são determinadas por processos cognitivos complexos que entram em ação quando o indivíduo é levado a tomar uma decisão moral.

As expectativas

“Esperamos que evidências como esta, sobre os mecanismos cerebrais do altruísmo e comportamentos afins, possam promover os tipos de relações sociais positivas desejadas por famílias de pacientes em reabilitação por diferentes formas de lesões cerebrais traumáticas ou por doenças neurodegenerativas”, enfatizou o neurocientista Jordan Grafman, do Programa de Pesquisas em Lesão Cerebral, do Shirley Ryan Ability Lab, em Chicago, nos Estados Unidos. É ele o coordenador geral do estudo de traumatismos cranianos em ex-combatentes do Vietnã.

Website: http://www.jorgemoll.com.br

Conheça o portal de anúncios Será que Tem?

Publicidade

DEIXE O SEU COMENTÁRIO

Digite seu comentário!
Digite seu nome