Pesquisadores do Instituto Butantan descobriram dois mediadores capazes de inibir a secreção do hormônio liberado em situações de estresse físico e psicológico. Esse controle acontece de forma separada a partir do bloqueio, respectivamente, do adrenocorticotrófico (ACTH), também chamado de corticotrofina (CRH), e da vasopressina.
“O que fizemos foi tentar bloquear os receptores de vasopressina e de CRH para avaliar como ocorria a resposta na cobaia ao submetê-la ao estresse físico e psicológico. Sendo assim, conseguimos suprimir a resposta hormonal, a liberação de ACTH e consequente liberação de corticosterona em qualquer tipo de estresse”, explica Lanfranco Troncone, responsável pelo Laboratório de Farmacologia do Instituto.
Dessa forma, a pesquisa notou que ao bloquear os receptores dessas duas substâncias ela impedia a manifestação das duas formas de estresse. Essa descoberta é resultado da linha de pesquisa que investiga a relação entre o estresse e a depressão. Portanto, com o aprimoramento dessa técnica, os pesquisadores acreditam que o controle das estruturas cerebrais permitirá contribuir cada vez mais para o combate à doença.
“Outro ponto é conseguir melhorar os testes que são feitos para novos medicamentos contra a depressão. Com isso vamos torná-los mais confiáveis e haverá uma redução no custo do desenvolvimento de novos fármacos”, ressalta Adriana de Toledo Ramos, bióloga responsável pela pesquisa.
Hoje, os tratamentos à base de remédios contra a doença envolvem várias tentativas e adequações. Isso faz que a terapia seja muitas vezes demorada e repleta de falhas. O simples bloqueio desses receptores pode ainda não surtir efeitos antidepressivos, por isso, segundo os estudiosos, a ideia é continuar investigando a amplitude de cada um.
“É neste ponto que paramos e continuaremos com a investigação. Vamos mapear as áreas cerebrais que estão envolvidas no estresse físico e psicológico para ver se conseguimos manipular esses locais até chegar à resposta esperada”, finaliza Lanfranco.
O atual projeto, que está em andamento desde 2014, também é uma parceria com as universidades UNIFESP e USP. Ele foi elaborado com base em recursos concedidos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
“É uma alegria saber que projetos que começaram bem pequenos estão se tornando de suma importância para descobertas da biologia e, sobretudo, para a saúde da população. Todos os pesquisadores tiveram apoio proeminente da FAPESP ao longo de suas carreiras. Isso foi fundamental para que nós continuássemos a investir no projeto”, comenta Marie-Anne Van Sluys, membro da Coordenação Adjunta – Ciências da Vida da instituição.
Segundo ela, a FAPESP, desde 1992, já auxiliou mais de 200 estudos que envolvem conhecimento de antidepressivos. Isso equivale a um montante de mais de R$ 22 milhões de investimento em projetos na área.
Vale lembrar que o Instituto Butantan é um órgão vinculado à Secretaria do Estado da Saúde e um dos maiores centros de pesquisa biomédicas do mundo. São projetos inovadores como este que levam o nome da instituição para o universo da ciência e colocam o Estado em um dos principais pilares de estudos no país.
“O Instituto Butantan tem uma herança de seus pioneiros da qual extrai animo e inspiração para desenvolver novos tratamentos. É a partir dessa inspiração que nos aventuramos em terrenos nunca antes trilhados”, completa Dimas Covas, diretor do Butantan.