A memória de qualquer pessoa guarda fortemente registros de momentos, músicas, filmes, livros e lugares. Um destes registros que ainda povoa o imaginário popular é Tarzan, o homem macaco que não só afetou a produção literária pulp e as histórias de quadrinhos, como também se tornou o protótipo dos super-heróis atuais. No livro “O Inferno é Verde”, de R. D. Silveira, o filho das selvas, não existe, mas a narrativa dos animais presentes na trama lembra o modo como Edgar Rice Burroughs escrevia sobre Tantor, o elefante, Numa o leão, ou Sheeta a pantera. Num cenário que envolve a Amazônia Colombiana, os nomes dos animais selvagens são proferidos em espanhol e um ou outro é narrado na perspectiva animal dos fatos e dos sentimentos. Um exemplo disso aparece na sequência de número quatro onde a trama é situada a partir de uma viagem de barco à Amazônia Colombiana. Do alto da copa das árvores uma coruja olha o barco onde está Nolan, o Agente da 3-i, espécie de CIA dos tempos modernos, a serviço não de um único país, mas de uma comunidade internacional.
Buho resolveu seguir o barco, mas bichos peludos apareceram pulando entre as árvores, num barulho insuportável. Criaturas estúpidas! Um simples espirro qualquer e os baderneiros punham-se a fazer caretas e a berrar a plenos pulmões. Buho, ao menos, por ser uma coruja podia voar, de modo que piscou o olho e ganhou os ares, aliviando seus tímpanos.
Trinta sequências no texto exibem um romance transcendente com características que um leitor de tempos contemporâneos poderia esperar em um romance contemporâneo. Sequências narradas sem rebuscamentos literários escondem um quê de mistério a ser revelado na sequência seguinte conduzida em meio a ações e suspense. Sobressaltos, desejos, cobras, Lava Jato, Green Hell, cada sequência tem um título ligado à trama que mostra a investigação do tráfico de drogas por uma agencia internacional de inteligência. Sequestrado por uma guerrilha, o agente que se apaixona por uma índia é impelido a usar todas as habilidades de um superagente para enfrentar guerrilheiros e animais selvagens.
Nos anos 60, o diretor cinematográfico Stanley Kubrick decidiu brincar com a imaginação das pessoas sobre inteligência artificial. No clássico longa-metragem o computador HAL 9000, comandava a maioria das operações que envolviam os personagens em cenas enigmáticas e ambíguas próximas ao surrealismo. Cinco décadas depois “O Inferno é Verde” mostra que bots, bits e bytes continuam dando ordens. A cada acesso de um agente especial, os acordes do 1º Movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven antecedem a entrada de Holmes, a supermáquina que analisa metadados de milhões de pessoas e lugares e fornece informações através de um bot que se apresenta como rosto-sombra. Até na selva amazônica é possível acessar o supercomputador da 3-i capaz de acionar robôs virtuais e drones em qualquer parte da terra.
A trama contemporânea do Inferno é Verde, põe Holmes em evidência e mostra a selva, a droga, os índios e os animais selvagens. Um olho da narrativa está no mundo real e através dele, em cenas às vezes hilariantes, personagens atuais aparecem aqui e ali e fecham a história na República de Curitiba.
Como na passagem do classicismo para o romantismo, onde a 5ª Sinfonia de Beethoven nasceu de um novo pensar diante do mundo, o livro sobre tráfico de drogas, singulariza a inteligência artificial com uma nova visão. Nela o que está na memória do leitor é impulsionado para um futuro que espelha o passado. “O Inferno é Verde” evoca reminiscências e impregna a imaginação. Suspense, aventura, drama, romance, intriga e corrupção renovam os personagens. É como diz o texto do livro:
Para criar personagens no tempo e no espaço Deus tem caixas de ferramentas. Cada vez que uma delas é aberta, inicia-se a montagem de um novo espetáculo. Deus não joga dados, como dizia Einstein, mas adora brincar com eles.
Website: http://www.institutoibh.com.br/
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